A simplicidade na perfeição
Elizabeth Caldeira Brito*
Texto publicado no Diário da Manhã
“Na direção do sol
levantei os braços
e entreguei os passos
no caminho do vento”…
O renomado escritor Miguel Jorge, da Academia Goiana de Letras, escreveu no prefácio de Todas as Fábulas: “Sônia Maria Santos parece testemunhar a existência do mundo e do ser humano desde o seu princípio, até agora, em necessário conhecimento de si mesma, pois que o viver está muito próximo do escrever.” Escrevendo com sensibilidade e conhecimento, dos matizes da linguagem, a poetisa, possuidora de uma bondade adivinhada, (palavras de Oscar Berthold), bem sabe restringir o uso da expressão, para não esmagar as entrelinhas com palavras.
Sônia Maria Santos publicou quatro livros de poesias. Em 2007 foi agraciada com os prêmios: “Colemar Natal e Silva”, da Academia Goiana de Letras e “Francisco da Silva Nobre”, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, com o livro Todas as Fábulas. No seu feitio literário, como excelente regente da linguagem, a palavra vem adequada, milimetricamente encaixada no poema, cujas imagens nos fazem divagar e assumir, tantos espaços quantos os que nos propõem suas viagens poéticas. A autora transforma em paisagens, sentimentos, sensações e leituras líricas na reinvenção do cotidiano.
VITRAL
“Além das copas
das arvores
e céu se abre
o mais possível.
Se abre em arco
por onde passo
estremecida,
como quem aprende
longamente com a vida.”
O escritor José J. Veiga (1915-1999) em carta endereçada a Sônia Maria Santos desabafou: ”A boa poesia é rara porque raras são as pessoas que podem entrar nessa comunhão, e assim ver, ouvir e sentir tudo como se fosse para sempre pela primeira vez, sem a prévia informação deformante. Você teve essa capacidade, ou dom – ou condenação? Seja o que for, eu a felicito pela perfeição e delicadeza dos seus poemas…” Como que a derramar carícias e iluminar olhares, suas dores recônditas nos buscam e nos vestem de plácidas ternuras, mostrando-nos a beleza do simples e a possível permanência do efêmero no pulsar de um poema, como em:
MOVIMENTO
“Braços e pernas me levam,
me levam sem pena.
Asteróides passam
num risco
vindo
do começo da vida.
Nem ao menos sossega
a mínima pétala
(dis)posta a voar.”
O escritor José Asmar (1924-2006) escreveu no prefácio de Casa do Tempo: “… Seu poema dispensa guardas e salvaguardas normativas. Tem conteúdo de alma – a alma da autora na busca da paz com as almas alheias. Conta da linguagem às vezes metafórica, mas pura, direta da produtora aos consumidores.”
HUMANOS
“O que somos
é tão estranho
que nos fazemos humanos…
…O que vai ficando
é uma lição extrema.
Ou um sulco.
Ou um jeito de aqui durar.”
“… És tão forte e tão frágil. Como a onda ao termo da luta. Mas a onda é água que afoga: Tu, não, és enxuta.” Palavras de Manuel Bandeira (em “Improviso”, no livro ”Belo Belo”) referindo-se a Cecília Meireles. Parafraseando o mestre e pedindo-lhe de empréstimo a frase, coloco, onde estão as reticências, o nome da escritora de força sublime, Sônia Maria Santos.
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