Carta de José J. Veiga
José J. Veiga
Rio, 22. 11. 95
Sônia Maria
Estou acabando de ler o livro CASA DO TEMPO, que você teve a gentileza de me mandar “para que dele eu tomasse conhecimento”. Pois fiz mais do que isso. Li mais de uma [vez] os seus poemas sucintos, precisos e iluminecentes como haicais. Daqueles que a gente lê, recebe o choque sutil pára, pensa e se ilumina. Também nos seus poemas não tem nada sobrando nem faltando. Não são exuberantes nem gritados.
Parecem orações mais pensadas do que articuladas. Parece que primeiro foram ouvidos sabe-se por que meios vindos de alguma região misteriosa onde nasce a poesia. Respiração ou sussurro de anjos, coisa assim. E a maneira inesperada de reproduzir em palavras o que foi percebido em comunhão íntima com o universo.
A boa poesia é rara porque raras são as pessoas que podem entrar nessa comunhão, e assim ver, ouvir e sentir tudo como se fosse para sempre pela primeira vez, sem a prévia informação deformante. Você teve essa capacidade, ou dom — ou condenação? Seja o que for, eu a felicito pela perfeição e delicadeza dos seus poemas, e agradeço pela lembrança feliz em me dá-los a conhecer e conseqüentemente de me enriquecer com a leitura deles. O seu livro vai fazer parte da minha pequena coleção de poetas sempre revisitados.
Tudo de bom para você, sempre.
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